sexta-feira, 8 de junho de 2007

Espaço Cultural Tasso da Silveira

Fernando Rodrigues Batista

O Espaço Cultural Tasso da Silveira, nasceu da idéia de um jovem escritor paulista, o Sr. Victor Emanuel Barbuy, neto do saudoso filosofo Heraldo Barbuy, com o auxílio entusiasta do Editor Gumercindo Rocha Dórea, o Dom Quixote da cultura brasileira nos últimos 50 anos.
O fim colimado é simples, porém, merecedor dos mais elevados encômios, porquanto visa resguardar a memória das mais significativas figuras da tão fecunda intelectualidade nacional.
Assim, sob a direção do jovem escritor acima citado, uma plêiade de jovens espalhados pelos mais vastos rincões da pátria, dotados do mais nobre sentimento patriótico e cristão, nesta hora de embriagues moral e cultural desvirtuador do sentido histórico e transcendente da nacionalidade, em perfeita comunhão de idéias, atendendo a um chamado que entendemos ser um dever moral, decidem cada um em sua região homenagear e preserva o patrimônio moral e cultural que lhe foram legados por seus maiores.
Nesse sentido, é que simultaneamente serão criados sitios na rede mundial de computadores, onde através de artigos, biografias, fotos, textos, serão homenageados, como já salientado, a fina flor do pensamento nacional em seus mais diversos campos, quais sejam: Gerado de Mello Mourão, Gustavo Barroso, Câmara Cascudo, Álvaro Lins, Mauro Motta, José Lins do Rego, Adonias Filho, Guerreiro Ramos, Herbert Parentes Fortes, Lúcio José dos Santos, Dantas Mota, San Thiago Dantas, Miguel Reale, Goffredo da Silva Telles Jr., Alberto Cotrim Neto, Felix Contreiras Rodrigues, dentre tantos outros.
Quando me fora atribuída a incumbência de homenagear Tasso da Silveira, filho do planalto paranaense, senti-me pequenino em face de tão difícil missão em se tratando de um poeta de tão alta estirpe como fora e o é Tasso da Silveira.
Após alguns momento de reflexão, pensei quais seriam as primeiras palavras para saudar nosso homenageado. Quais seriam? Apenas me vieram as imagens pretéritas da figura daquele octogenário advogado e jornalista carioca, Dr. Arcy Lopes Estrella, que quando de minha estadia em sua residência nos idos de 2001, discorria com amabilidade sobre o poeta do "Canto Absoluto".
No entanto, me acudiu a memória, a saudação feita à Tasso por J. Lourenço, poeta mineiro, em 19 de outubro de 1938, no II Salão de Belas Artes, de Belo Horizonte, em nome dos intelectuais mineiros, quando o poeta fez uma conferência, de tema: O Cristianismo e a Arte", que assim dizia:
"Mas se te devo saudar, amado poeta, na base de simpatia da tua obra de artista; na base de fraternidade do teu coração brasileiro e na base de caridade de tua vida de cristão - assim posso falar-te satisfeitamente, sem nuvens de receios, porque amo a tua poesia, e a tua brasilidade, e sou o teu irmão em Jesus-Cristo".
Devo cingir-me a dizer nestas primeiras e modestas linhas, que Tasso da Silveira foi o "Poeta de feições monásticas", como dizia Joaquim Ribeiro, porquanto poetas desta linhagem "não disputam popularidade, porque todas essas disputas a eles parecem provas de vaidade, contrarias ao humilde voto, que a si mesmos impuseram", preferem o retiro ameno dos seus mosteiros, erguidos nas fragosíssimas colinas dos seus sonhos ao bulício policrômico das cidades das letras.
Se hoje seu nome é olvidado das rodas intelectuais, não nos surpreende, pois sua mensagem atinge os píncaros da eternidade, do transcendente, ou seja; em total dissonância com literatura barata que hoje se faz, onde a ideologia – notadamente de cunho esquerdista/marxista – lhe corroe até as entranhas.
Ao contrário, para Tasso, a literatura é a arte de um povo, constitui propriamente a expressão desse povo. A arte, é, por essência uma expressão indireta, alegórica, simbólica – onírica, se quiserem -, de ultra-profundas realidades do espírito e, em face da obra de arte, da obra literária, se ela é genuína, há nessa obra uma interioridade oculta, que precisamos penetrar.
Essa interioridade se vê claramente em seu Canto do Absoluto que Joaquim Ribeiro assim define: "Canto do absoluto: é essa experiência lírica a favor de um sentimento místico, que se confunde com um sentimento estético absorvente. Nessa obra, Tasso da Silveira fez a essência superar a forma. A poesia logrou uma pureza profundamente paradisíaca e virginal".
A incompatibilidade da transcendente obra de Tasso da Silveira com a moderna literatura é tão manifesta, que lapidarmente assim definiu Mario de Andrade:
"Eu não sei nem me interessa saber qual a posição que tomará futuramente na poesia contemporânea do Brasil o claro e belo poeta do ‘Canto Absoluto’. Sei que, no momento, ele representa, um fantasma, quase insuportável, apavorando, castigando a maioria das nossas consciências individuais. (...) Mas que figura atrasada, que fantasma daninho será este em nosso meio intelectual! A dolorosa miséria do mundo contemporâneo atingiu a superficialidade cultural da nossa inteligência, da maneira mais contagiosa, putrefazendo tudo. Dá nojo. Domina a intelectualidade artística brasileira o comodismo mais bastardo. (...) É de semelhante mundo imundo que se ergue a figura capaz de ser igual a si mesma de Tasso da Silveira, entoando o seu ‘Canto Absoluto’ . E os seus poemas, tão mansos, silenciosos, soam como um clamor". (Mario de Andrade, O empalhador de passarinho, Martins Editora, São Paulo, p. 75).
Por derradeiro, neste momento em que alguns sintomas de ressurgimento, de restauração que o seja, de apreço pela "verdade, o bem e o belo", só nos resta evocar a exortação proferida pelo próprio Tasso da Silveira:

"Aqui está, meus irmãos, a argila viva, acumulada em jazidas inesgotáveis.
Vamos por mãos ao trabalho prodigioso.
Os ritmos profundos
Acordam neste instante,
Nas mais secretas profundidades de nosso espírito.
Vamos criar as formas inumeráveis,
Infatigavelmente,
Para que, sem cessar, escorra nelas
O pensamento de Deus
E, assim, possamos, na verdade,
Concretizar em beleza humana
Um pouco
Da sua infinita
Plenitude...".